terça-feira, 25 de outubro de 2011

O testemunho suscita Vocações




Acredito que testemunhar suscita outras vocações, no sentido que outros vendo o bem que Deus realiza em nós, se abrem numa resposta generosa a esse Deus que nos chama continuamente. Recebi um alegre pedido para contar a minha vocação e resolvi responder prontamente a tão simpático convite. Bom, a minha vida cristã e o endereçamento para a vida religiosa não tem nada de sinais sobrenaturais, ou extraordinários, mas uma experiência normal como acontece com qualquer jovem.
Fui batizado, mas ainda sem compreender profundamente a grandeza desse dom de Deus para cada um de nós, nos inserindo na família de Deus, e imprimindo caráter, é uma coisa maravilhosa, se tornar filho de Deus no Filho. Sempre procurei seguir o que me ensinavam na catequese, participar da missa todos os domingos, fazer as minhas orações, não falar palavrão, etc. Nessa época todos na minha sala de catequese iriam ser padres e freiras e inclusive eu. Procurei perseverar no meu objetivo, perseverar na pratica religiosa.
Quando fiz a primeira comunhão, alguns meses depois me afastei da Igreja, com a desculpa do trabalho, eu trabalhava para uma família que não era cristã e não observava as nossas festividades, e depois por alguns anos fui trabalhar num açougue onde trabalhava também aos domingos.
Logo após esses anos tive a famosa crise da adolescência, onde se começa a questionar o que vou ser quando ficar adulto, que religião seguir… nessa época me afastei da Igreja e comecei a girar por vários grupos religiosos ( espíritas, candomblé, igrejas neo pentecostais, messiânicas…) em busca de uma resposta sobre Deus, e todos os lugares onde passei não via algo profundo que me cativasse. Resolvi continuar rezando e durante a novena de natal do ano de 1995, minha catequista me pediu para ajudar no grupo com as leituras, e o segundo encontro seria em minha casa, daquele dia em diante não perdi um encontro, sempre ajudando no final da novena, fiz um propósito que o presente que eu ofereceria ao menino Jesus naquele ano, e que eu iria voltar a Igreja porque eu precisava conhecer a bem a minha fé.
Tomei a decisão de inscrever-me no curso de preparação para o Crisma, com os adultos naqueles ano, tive a graça de começar a trabalhar com as Filhas de Maria Missionárias no Educandário São José, em Santo Anastácio. Os catequistas do Crisma nos faziam entusiasmar com os conteúdos que eles nos passavam vibrar mesmo. Assim senti a vontade conhecer a Palavra de Deus.
Sempre que tinha dúvidas, me dirigia as Irmãs que pacientemente explicavam. Naquele ano o mês vocacional me pegou em cheio. Todas as reflexões, era lindo ouvir o testemunho de gente realizada na sua vocação. As Irmãs consagradas, principalmente Irmãs: Teresa, Anastácia, Imelde, Ines, Gorete, Rosânea, os leigos engajados nas pastorais, como era lindo ver as famílias falarem do seu trabalho pelo Reino, o Padre Gerisvaldo que conheci como diácono e depois como jovem sacerdote, comunicava a graça de Deus no seu trabalho pastoral realmente era questionado: Qual será a minha vocação? Entre todas essas qual será o meu chamado?
No caminho de discernimento fui refletindo, fazendo o confronto, rezando, amadurecendo e buscando. Decidi ir ao seminário diocesano para ver se era ali que o Senhor me chamava. Participei do primeiro encontro, era tudo muito lindo, estava em casa, mas parece que faltava algo que eu não sabia o que era. Era tudo perfeito mas o meu coração ainda não estava todo ali. Mesmo assim resolvi voltar no segundo encontro para dizer aos padres que não viria mais, já tinham me colocado na lista de quem entraria no próximo ano. Naquele encontro, entre os testemunhos, tinha um sacerdote, um casal e uma religiosa das franciscanas do coração de Jesus, Irmã Dirce Lourenço.
A irmã nos falou sobre São Francisco e a sua vocação ao carisma franciscano justo após o almoço, realmente era uma batalha difícil. Mas a irmã não se intimidou e com um belo sorriso e todo o seu entusiasmo nos manteve acordados e interessados ao seu testemunho. Sentia a vida nos olhos e no sorriso daquela irmã, a sua alegria contagiava a todos e ao ouvir como ela se encantou por São Francisco. Naquele momento pra mim o santo de Assis passou a ser o mais belo dos santos e mais original seguidor de Cristo. Realmente me apaixonei, no olhar da irma franciscana fiquei perdido de amor para seguir Jesus no modo de Francisco. Meu coração ficou franciscano. Queria conhecer francisco, os frades queria descobrir essa vida que ate então nunca tinha ouvido falar.
Simpaticamente me convidei para ir ao convento da Irma, eu precisava ler sobre esse santo conhecer mais… A irma depois de duas conversas me disse você seguramente será feliz com os capuchinhos, pedi o endereço desses benditos frades e assim que consegui entrar em contato, fui passar uma semana com eles.
Quando cheguei a Piracicaba, o trabalho dos frades me encantou, Frei Francisco que vivia num barraco e favela ha mais de 10 anos, embora professor e homem culto compartilhava da vida dos pobres. Frei Carlos que atendia uma fazenda de dependentes químicos, e o carinho e dedicação daqueles frades, do povo gente com a gente. Não tive dúvida, disse no meu coração: aqui armarei a minha tenda!
Mas as provações e os critérios vocacionais não tinham nem começado, mas no meu coração tinha decidido de ser capuchinho. Se podia entrar no aspirantado depois de um ano sendo acompanhado em casa. Participei de dois encontros e falei com o acompanhador: “Entro no convento com os capuchinhos? Se vocês não me querem vou caçar quem me queira!! Não tenho mais o que pensar quero ser capuchinho.” Ficava triste porque todos os jovens tinham o dia de entrar no convento e a mim ninguém tinha dito nada.
Quando recebo o telefonema dizendo que no dia 25 de agosto, dia de São Luís de frança, iria iniciar o aspirantado com mais 4 jovens no convento Santa Clara de taubaté. Estava tudo certo, mas ainda não tinha sido dispensado do exército. Graças a Deus fui dispensado. Mas ainda por dois meses seguindo o conselho do meu diretor espiritual não devia dizer nada a ninguém.
Estranhamente, deixei a catequese, o grupo de jovens, os vicentinos, o cursilho todos os meus compromissos sem dar explicação a ninguém e as pessoas estranhavam. Mas seguindo o conselho não queria dizer que estava indo ao convento. No dia 23 de agosto na missa das 18:30 todos ficaram sabendo o mistério, eu estava deixando Santo Anastácio para entrar no aspirantado dos Frades Menores Capuchinhos.
Hoje fazem 12 anos que se passou o momento difícil de deixar a casa, a família, o que tinha, e a possibilidade de ter e deixar a minha terra, meu trabalho e meus amigos com uma simples mochilinha nas costas. Com todas as dificuldades que passei, momentos de questionamento e crises. Horas em que fui colocado sobre pressão para crescer. Tenho a certeza de que o Senhor sempre esteve comigo e me sustentou, pois sozinho não podia. A cada dia agradeço a Deus a graça de ser um irmão capuchinho. Eu por mim mesmo não mereço mas Jesus na sua bondade infinita me sustem sempre.








Frei Emerson Aparecido Rodrigues, OFMcap, atualmente vive em Roma no Colégio Internacional São Lourenço de Brindes, onde trabalha na recepção e cursa Teologia Espiritual com especialização em Franciscanismo na Pontificia Universidade Antonianum.








Esse artigo foi publicado no dia 25.08.2010, no blog jovens apostolos endereÇo http://jovensapostolos.wordpress.com/2010/08/25/o-testemunho-suscita-vocaes/