quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

O Natal vivido por Francisco e Clara de Assis.




Encontramos nas fontes franciscanas em Tomas de Celano na sua primeira vida de São Francisco, no capitulo 30, nos números: 84,85,86 e 87[1]nos narra sobre o acontecimento do Natal de Greccio. Fato esse que ficou conhecido até hoje, muitos falam da primeira pessoa que teve a inspiração de preparar um presépio. Porém, mas do que o fato de ser Francisco de Assis o primeiro a montar um presépio vivo é interessante entender a sua motivação para fazê-lo.
Penso que este texto nos ajuda a resgatar o jeito franciscano de celebrar não somente o Natal, mas o mistério de Deus cada dia da nossa vida. Primeiro o texto nos deixa claro a motivação de Francisco, vivenciar o Evangelho, a vida de Cristo, se esforçava porque a sua maior aspiração era essa. Ele procurava a cada minuto da sua vida estar unido, vivenciando com Jesus a sua vida, a sua paixão, e a sua encarnação, com essa motivação de por tudo e em tudo seguir os “passos de Nosso Senhor Jesus Cristo no seguimento de sua doutrina”[2].
Nesse seu desejo de estar sempre unido ao Cristo e algum modo próximo do que Ele viveu, o pobre de Assis, manda o seu amigo João preparar, fazer as preparações para celebrar o Natal do Senhor. Hoje os nossos presépios são bonitos, com luzes e tantos adornos. Nossa Senhora parece uma rainha, descaracterizada do seu jeito próprio de ser, o menino Jesus quase some no meio dos enfeites sem falar nos outros detalhes. Mas na verdade mascaramos Deus, enfeitamos Deus e tentamos torná-lo a nossa imagem e semelhança. Diferente de Francisco, que quer estar proximo da fragilidade e da pobreza que Deus Encarnado experimentou a falta até do necessário. O amor nasceu, o Verbo de Deus vem nos encontrar assim , como um menino pobre, na mais completa pobreza de um estábulo, em meio aos animais. A pobreza e a simplicidade de Deus nos agride porque não somos capazes de ser transparentes como Ele. Por isso, tentamos adorná-lo com a desculpa que è porque Deus merece. Porém na verdade é para esconder nosso medo de assumir pobreza criatural nossa. Francisco ao invés para se assemelhar e aproximar de Jesus o faz.
Francisco fez com que: “Grécio tornou-se uma nova Belém, honrando a simplicidade, louvando a pobreza e recomendando a humildade.”[3]
Quando colocamos Deus na nossa vida como Ele realmente è as coisas mais simples se tornam importantes, se assumimos a nossa pobreza criatural, e a nossa pequenes. Podemos fazer do nosso dia a dia e os momentos mais corriqueiros da nossa vidase tornarem ponto de encontro com o mistério de Deus. A solenidade está no valor que damos as coisas. Belém pode acontecer na nossa vida todos os dias quando nos abrimos ao acolhimento de Deus menino, do Verbo encarnado em todas as dimensões da nossa vida. Cada momento pode se tornar um momento da Encarnação. O menino Jesus, o “Rei pobre” vem a nos todos os dias silenciosamente.
Outro dado “A noite ficou iluminada como o dia”[4], quando capitamos o mistério de Deus na nossa vida tudo se ilumina, nós nos iluminamos e irradiamos luz por onde passamos, se contemplamos a graça de Deus, não tem como o nosso semblante não ser iluminado e não fazer notar essa luz e alegria.
A visão do menino Jesus, tão pequeno, tão simples e tão frágil. Deus se apresenta como um menino. Nessa simplicidade nos ensina como devemos fazer para sermos seres humanos melhores, pessoas que se envolvem no mistério de Deus. Se apresentando como um menino Deus nos coloca em xeque mate e cai por terra todas as nossas aspirações, de fama, prestigio, cargos, titulos e poder.Os fioretti, ou como traduzimos em portugues “ as florzinhas” de São Francisco no seu capitulo 35, fala que Santa Clara estando muito doente e não podendo ir a Igreja de São Francisco com as outras Irmãs, recebeu a graça de Cristo e foi transportada para a Igreja onde recebeu a comunhão e participou da solenidade. Quando as Irmãs vem contar o que aconteceu na Igreja, santa Clara diz: “ Eu presto graças e louvores a nosso Senhor Jesus Cristo bendito, minhas irmãs e filhas queridas, pois estive presente a toda a solenidade desta noite, até maior da que vós tivestes, com muita consolação da minha alma.”[5] Devido ao fato dessa visão em 1958 o Papa Pio, XII a declarou "celeste padroeira da TV”. Mas Clara em um das suas cartas a Santa Ines, fala sobre o espelho que Jesus Cristo e aconselha Ines a observar esse espelho e descreve o espelho em três partes da qual a primeira o principio do espelho ela faz notar “a póbreza daquele que, envolto em panos, foi posto no presépio! Admirável humildade, estupenda pobreza! O Rei dos anjos repousa numa manjedoura.”[6]
Por esses fatos da vida desses dois grandes santos nós podemos perceber o seu esforço em viver uma vida com Jesus na sua globalidade. Cada momento ´uma oportunidade para estar com Jesus, para vivenciá-lo e testemunhá-lo. Para os dois viverJesus Cristo na globalidade da sua vida è um projeto um caminho a construir, que tem seu ponto de partida no nascimento na contemplação e vivencia do mistéio da Encarnação. Oremos ao Senhor para que possamos como Francisco e Clara quando montamos nosso presépio aprofundarmos nosso desejo de viver imerso no mistério do Senhor, que nossa motivação seja segui-lo onde quer que Ele vá. Feliz Natal!





[1] Não citarei as pagina, pois uso a versão do site de internet http://www.procasp.org.br/, tradução feita por Frei José Carlos Correia Pedroso.
[2] N.84, v1.
[3] N.85,v5.
[4] N.85,v.6.
[5] I Fioretti cap.35.
[6] 4CtIn 19-23.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Uma vida consagrada.


O tema sobre o qual quero tratar aqui brevemente é profundo mas tantos outros já trataram, porém quero fazer um aceno somente para não deixar de falar visto que parece muito importante pelo menos falar sobre ele nos nossos dias.
A consagração religiosa, num tempo em que se fala de secularismo, hedonismo e tantos outros ismos. Penso que é necessário afirmar a minha crença, reafirmar a minha opção da vida religiosa como caminho viavel e possivel para a construção do Reino de Deus. Mesmo com tantas pessoas ao meu redor dizendo não entendo porque um jovem como voce com toda a possibilidade de vida decide ir para um convento. E perguntam voce esta fugindo do mundo. O que aconteceu esta desiludido com a vida. Eu respondo voces ainda estão nessa
Porque para as pessoas não é tão simples compreender porque um jovem decidiu fazer-se religioso. Muitas vezes somos considerados pessoas que somente rezam ou é uma coisa muito bonita para o filho da vizinha e as mães até rezam pela vocação dos filhos dos outros.
Porque então decidi me consagrar para viver com Jesus e optar pela vida que Ele optou de um profundo contato com Deus pela oração, de estudo para poder compreender melhor o mundo, a vida, as pessoas, os problemas, os desafios. Uma vida de trabalho, junto com o povo de Deus.
Uma vida dedicação aos pobres, como consequencia da vida que escolhi.
Mas acima de tudo uma vida consagrada. Porque para estudar, trabalhar, rezar não precisa ser religioso, consagrado ou consagrada.
Mas a diferença é procuramos consagrar-nos totalmente a Ele, nas pessoas que precisam...
Ofertamos o nosso amor atraves a castidade, que mais do que não fazer sexo é uma amor universal a todas as pessoas, mas localizado se doando e amando principalmente os mais ncessitados de amor, não um amor excludente, mas um amor preferencial. Por amor de Deus amamos os nossos irmãos, ainda que não atingimos a perfeição da caridade, mas nos esforçamos cada dia.
O despojamento, mais do que pobreza material, estar disponivel, ouvir, se doar, se aproximar, abrir as pessoas, abrir mão dos nosso poucos caprichos pessoais para servir, para ser sinal do Reino.
Obedecer atraves dos superiores, mas não somente, porque cumprir ordens é facil, mas saber ouvir o que Deus quer de nós, onde está o seu projeto, e a sua vontade.
Uma consagração devota do nosso coração que nos leve a seguir Jesus onde quer que Ele vá.
Mais do que endossar uma veste religiosa, um hábito. O nosso coração deve estar consagrado portando esse amor que gera e defende a vida. Chama que deve ser alimentada a cada dia. Devemos esse brilho nos olhos cada dia nem sempre fácil, nos somos portadores não de nós mesmos e de nossa mensagem, mas do grande amor que Deus tem pela humanidade e o seu plano de Salvação que não exclui nenhuma criatura.
Ser consagrado significa amar com esse amor, ser presença desse amor. A Beata Teresa de Calcutá diz uma coisa simples mas importante: Deus continua amando o mundo atraves de voce e de mim. Isso é verdade os pequenos gestos de amor ainda que insignificantes devem ser expressão do amor de Deus.
Nos consagrados e consagradas devemos ser esse rosto de Deus que ama a humanidade. Por nos mesmos não somos capazes e sabemos que não é facil, mas esse é o nosso chamado, o que nós fazemos todos podem fazer, a diferença está no amor, e pelo amor de quem o fazemos.

A força profética da Paz não cala.



A paz sempre foi almejada por todos os povos. Durante a história da humanidade temos uma infinidade de tentativas de estabelecer a paz, de manter a ordem, mas tendo como parâmetro a guerra, a dominação e subserviência dos outros povos.

Essa tentativa está expressa no pensamento grego em Heráclito com a sentença: “A guerra é a origem de tudo”. Os romanos, com o famoso dizer: “Se queres paz, prepara-te para a guerra, é a pax romana”. Estudando a história de Israel e todo o seu desfeixo vemos nitidamente como esse antagonismo está presente, ao mesmo tempo: um grande anseio pela paz construído pela força da guerra.

Voltando o olhar para nossos antepassados constatamos que a guerra não constroe paz, ao contrario traz violência, miséria e injustiça. Quando a paz é ameaçada a imagem e semelhança de Deus é violada nos homens, nas mulheres e nas crianças.

O que acontecia no passado continua acontecendo, o ser humano é ameaçado e as esperanças de construir a paz, se esfacelam. Os paises africanos em guerras fratricidas, os E.U.A impondo a “pax americana” ao mundo. A ordem mundial é ameaçada.

Neste contexto que se apresenta caótico. Os cristãos são chamados, convocados a ser profetas da paz. Seguindo de perto o exemplo de seu mestre: Jesus Cristo, o Príncipe da Paz. De fato, com o anuncio do seu nascimento os anjos cantam: “ Glória a Deus nos altos céus e paz na terra aos homens por ele amados”[1] Ele diz aos seus discípulos, cristãos e cristãs de todos os tempos: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz; não vo-la dou como a dá o mundo”[2] O Ressuscitado da a sua paz e envia seus discípulos para proclamar a paz: “ A paz esteja com vocês”[3]

A prática e o discurso de Jesus é uma constante ação de construção da paz. No sermão da montanha, no trecho das bem aventuranças, no Evangelho de Mateus, Jesus ensina: “Felizes os que promovem a paz porque serão chamados filhos de Deus”[4] Seu mestre os ensina a “oferecer a outra face”[5]. Não simplesmente dar o outro lado do rosto para bater, mas mostrar o outro lado da situação, em meio às guerras, testemunhar a paz. Quando são enviados em missão ao chegar, o primeiro passo é saudar desejando a paz[6].

Na Idade Média, outro homem Francisco de Assis consagrando sua vida a seguir o Evangelho de Jesus Cristo se torna testemunho de paz. Celano ao descrevê-lo, escreve : “ Como era bonito, atraente e de aspecto glorioso na inocência de sua vida, na simplicidade da palavras, na pureza de coração, no amor a Deus, na caridade fraterna, na obediência ardorosa, no trato afetivo e no aspecto angelical...”[7] O retrato de Francisco é desenhado como uma pessoa que a sua presença transmite paz. Todas as vezes que iniciava a pregação desejava a paz[8]. Como um soldado de Cristo percorre as cidades anunciando a paz[9]. Em I Fioretti, Francisco pacifica um leproso impaciente que agride os frades e ao se submeter ao leproso e lavá-lo, pedindo que ele permaneça na paz o leproso é curado.[10] Em Arezzo, quando a cidade estava em guerra interna restabelece a paz por meio de Frei Silvestre que é seu porta voz[11]. Em Assis, quando o bispo e o podestá de Assis estavam em grande contenda. Compõe o Cântico do Frei Sol, convoca seus irmãos e na presença dos cidadãos reunidos os frades cantam tocando os corações do bispo e do podestá que se reconciliam e a paz volta a reinar[12]. Em Gubbio, um lobo causa terror na cidade, Francisco encontra nele um irmão e estabelece a paz entre ele e os homens[13]. Quando Frei Masseo e Francisco chegam a Siena os habitantes estão em guerra e após uma pregação a paz é restabelecida.[14] Francisco como os cruzados parte em missão entre os muçulmanos, mas diferente dos cruzados seu objetivo é outro. Encontra-se com o Sultão em Damieta, os dois conversam em paz[15]. A sua prática é pacifica mais por exemplo que por palavra, ainda sim, exorta seus irmãos a serem pacíficos “ São verdadeiramente pacíficos os que , no meio de tudo quanto padecem neste mundo, se conservam em paz interior e exteriormente, por amor de Nosso Senhor Jesus Cristo”[16]

Em 1963, o mesmo que dizia: “ O mundo inteiro é minha família” Preocupado com a ordem mundial e com os caminhos que o mundo estava tomando, o Papa da Paz, como ficou conhecido João XXIII, lança a Encíclica “Pacem in Terris” ( A paz na terra). Na introdução da encíclica escreve: “A paz na terra, anseio profundo de todos os homens de todos os tempos, não se pode estabelecer nem consolidar senão no pleno respeito da ordem instituída por Deus”[17] e no desenvolver enfatiza a grandeza e majestade de Deus que tudo criou maravilhosamente e a dignidade do ser humano feito a sua imagem e semelhança. Recordando ainda, a perfeita harmonia que existe no mundo criado, ao que chama “ordem natural”. Essa ordem criada por Deus que faz funcionar tudo de forma perfeita essa “lei“ que indica como deve ser a convivência da comunidade humana .

E para que essa harmonia continue é preciso primar pela dignidade do ser humano fazendo com que de fato tenha seus direitos respeitados: o direito a existência e um padrão de vida digno, e ao cultivo de seus valores culturais e morais, também de honrar Deus segundo a sua consciência, escolher seu estado de vida com liberdade. Ter seus direitos respeitados no campo sócio-politico-economico dentro da comunidade humana.

As comunidades políticas, o poder público deve colaborar para que esses direitos aconteçam em harmonia orientando tudo para o bem comum. O Santo Padre, exorta todos os cristãos a luz dos sinais dos tempos e participando na vida pública contribuir para que a paz aconteça. Dessa maneira influindo no desarmamento, nas relações com adeptos de outras religiões construir espaços de solidariedade e fraternidade.

Essa paz proposta por João XXIII não é descomprometida, mas é um resgate e uma atualização da paz evangélica, profética que propõe uma transformação dos ambientes ressequidos pela violência a partir de uma paz que está na ordem da natureza instituída por Deus e do coração do ser humano. Mas não é somente um estado de espírito, ou uma paz intimista esta fundada na verdade, na liberdade e justiça. Para construir a paz sem fundamento na verdade e na justiça é preciso criar guerras e pretextos para mais guerra. Precisamos estar sempre atentos! Pio XII nos alerta quando diz: “Nada se perde com a paz; mas tudo se pode destruir com a guerra”[18]

Esses são apenas alguns ecos da paz profética que não cala. Uma paz que propõe acabar com a violência do ser humano, mas parte do interior dos corações e por isso, tem condições de romper com as estruturas de violência. Não é simplesmente uma paz espiritualista ou intimista como propõe alguns grupos. Mas é espiritual porque está no profundo do espírito humano, transformadora e profética.


[1] Lc 2,14

[2] Jo 14,27

[3] Jo20,19.

[4] Mt5,9

[5] Mt5,39

[6] cf Mt10,12-14 e Lc10,5-7

[7] I Cel 83 pp.237-238.

[8] cf. I Cel 23 p.195

[9] cf. I Cel 36 pp.204-205

[10] Fior 25 pp.1130-1132

[11] cf 2 Cel 108.pp. 364-365.

[12] Legenda Perusina 44 pp. 776-777.

[13] cf Fior 21 pp.1122-1125

[14] cf Fior 11 pp.1101-1103.

[15] cf LM II 3 pp.626-627.

[16] Adm 15,2pp.66

[17] Pacem in Terris p.3

[18] Nuntius radiophonicuus, datus die XXIV mensis Augusti anno 1939, A.A.s XXXI,1939p.334.

A era da comunicação é um desafio a Vida Religiosa?[1]


A Vida Religiosa durante toda a sua trajetória soube dar respostas, sendo sinal de progresso humano e tendo atitudes revolucionárias no contexto sóciopolítico[2]. Pensemos nos Monges do Deserto que questionavam com sua vida toda uma estrutura social e as formas pelas quais a Igreja se submetia a ela. As Ordens mendicantes e a nova proposta que apresentam, o protagonismo dos religiosos ligados às universidades e as congregações modernas que supriram várias carências pelas quais o governo estava em déficit. Sem falar nos inventos e descobertas feitos por monges, as engenhosas máquinas que facilitavam a vida, as descobertas científicas e muitas outras. Lembro Roger Bacon, frade franciscano que no seu tempo já havia constatado que as lentes de vidro serviam para correção de deficiências visuais.

Num passado não muito distante e ainda agora subsistem, em algumas cidades do interior, as figuras do padre ou da religiosa que são tidos como autoridades, como alguém que tem mais conhecimento, que pode contribuir não somente no campo religioso, mas também prestar ajuda em outras questões do cotidiano do povo. A Vida Religiosa sempre marcou e deve marcar presença e influir no mundo com os valores que tem a oferecer.

Importa-nos hoje perguntar e responder qual o rosto que a Vida Religiosa apresenta ao mundo? Estamos no século XXI temos que admitir e tomar consciência de todas as transformações que sofremos. As informações nos chegam com uma velocidade incrível, e às vezes, não conseguimos assimilá-las. Muitas vezes não conseguimos perceber as transformações[3]. Ficamos enclausurados em nossas categorias clássicas sem digerir o novo. A mudança de época está acontecendo! Os desafios são plurais. As altas tecnologias que influem na vida dos seres, tudo isso pede que repensemos a antropologia[4]. No processo de globalização[5] que nos envolve, já não estamos ilhados, mas envolvidos em uma “aldeia global”[6]. O mundo inteiro está interligado por uma teia de relações complexas[7]. A trama é tecida a cada dia. A Internet se impõe como um poderoso meio de comunicação[8]. São várias as vozes que gritam ao mesmo tempo, numa miscelânea com freqüência confusa. Uma diversidade de espiritualidades se apresentam ao ser humano. Há uma variedade grande de experiências religiosas que são oferecidas ao fiel como um pacote para que ele consuma. Muitas posturas éticas estão a se oferecer. A ética consumista, por exemplo, é só uma delas. O mercado convoca todos a ser pelo que consomem. Um hedonismo exacerbado invade os meios de comunicação.

Tendo em mente um pouco desse panorama, como ouvir e comunicar a voz do Bom Pastor? Qual a mensagem profética que nós religiosos comunicamos ao mundo? Talvez nossa resposta não seja satisfatória? Quando decoramos as respostas, as perguntas já mudaram e não percebermos. Será que não estamos correndo o sério risco de perder o bonde da história?

Os outros apresentam a mentira com uma persuasão como se fosse a verdade, e nos comunicamos a verdade sem nenhuma eloqüência de maneira a parecer mentira.

Muitas vezes o rosto apresentado da Vida Religiosa, ou mesmo da Boa nova não é tão entusiasta como a Irmã Mary Clarence, personagem de Woopi Goldberg, no filme, Sister Act (Mudança de hábito). Talvez nos falte esse entusiasmo e, no caso de franciscano-capuchinhos, o entusiasmo e alegria de Frei Junípero, que nos revela os sinais da graça divina em suas trapalhadas. O espírito simples de “I Fioretti” precisa ser resgatado! O “homo ludens” franciscano está sufocado em nosso peito e tem muito a dizer para a modernidade. O vinho esta acabando e esquecemos de convidar Jesus para nossa festa. Quem transformará nossa água em vinho?

Às vezes nos falta a humildade de sentar aos pés do mestre e aprender dele como Maria de Betânia, escutar atenciosamente o que ele tem a nos comunicar, fazendo essa experiência de se tornar discípulo. Fazer a experiência kenótica com o mestre para comunicá-lo, descer nos profundos da realidade. Nessa mudança de época é necessário: “Tornar-se Jesus para comunicar Jesus”. A interatividade[9] é fundamental nesse nosso aprendizado, devemos integrar as várias dimensões de nosso ser e nos atualizarmos, Parece que empreendemos a viagem a cavalo quando todos os outros já partiram de jatinho. Somos chamados a ser profetas na pós-modernidade precisamos sempre fazer uma boa análise de conjuntura e ver além.

Outro elemento fundamental é a relacionalidade[10] no processo comunicativo. Não devemos reduzir a comunicação somente aos meios. Pensemos que todo o nosso ser é comunicativo. Devemos entender a comunicação no sentido antropológico do termo. Os nossos atos, gestos, nossa maneira de ser é comunicação, o ser humano é comunicativo por natureza. Mas, a nós, cristãos, em especial religiosos cabe o grande desafio de comunicar Jesus-Caminho, verdade e vida[11].

A Vida Religiosa tem por missão ser um prolongamento na história de uma especial presença do Senhor Ressuscitado. Ela é um dom de Deus à Igreja por meio do Espírito Santo. Será que comunicamos o valor de ser consagrado que nos convoca a viver com radicalidade o Seguimento de Jesus casto, pobre e obediente para continuar sua missão no mundo?

O Redemptoris Missio nos diz que “o mundo das comunicações sociais é areópago dos tempos modernos onde o Evangelho deve ser proclamado”[12]. E cabe a nós fazermos o diálogo entre fé e cultura. Atualizarmos a nossa forma de comunicar a verdade de Jesus para o homem da pós-modernidade. Todo carisma está imbuído de comunicação. Ele é comunicação de um dom concedido por Deus para estar a serviço. Os desafios são muitos. Mas é necessário relacionalidade, diálogo, interatividade, abertura, humildade de coração coragem de se atualizar para exercer o profetismo na pós-modernidade, saber fazer as conexões entre os nossos valores e a realidade. Qual o jeito franciscano-capuchinho de comunicar Jesus, hoje?


[1] Reflexão desenvolvida a partir do curso: “Os conselhos evangélicos na ótica da comunicação”, ministrado por Irmã Joana T. Puntel, religiosa paulina, doutora em Comunicação Social pela Simon Fraser University (Canadá)

[2] CHITTISTER, Joan. Fogo sob cinzas – Uma espiritualidade da vida religiosa contemporânea, p.18.

[3]cf. BABIN,Pierre, A era da comunicação,p.5-32

[4] BABIN,Pierre e KOULOUMDJIAN, Marie-France, Os novos modos de compreender- a geração do audivisual e do computador,pp.11-22.

[5] THOMPSON, John B., A mídia e a modernidade - Uma teoria social da mídia, p 135-154.

[6] Redemptoris Missio, p.63.

[7] PETRAGLIA, Isabel Cristina, Edgar Morin – A educação e a complexidade do ser e do saber,p.39-42

[8] cf. THOMPSON, John B., A mídia e a modernidade- Uma teoria social da mídia,p.20-25

[9] cf. LÉVY, Pierre, Cibercultura, pp.77-83.

[10] cf. GEBARA, Ivone, Rompendo o silêncio - uma fenomenologia feminista do mal, 188-201.

[11] BONATTI, Mario, Liturgia, Comunicação e cultura, pp39-44.

[12] Redemptoris Missio n. 37 p.63

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

No abandono, encontro o amado.

Na solidão,

Na escuridão,

Abandonado por todos

Tudo parece perdido

Somente

Silencio e desolação.

Aquela tristeza

No fundo da Alma.

O coração partido

Uma aridez interior.

Sem ter por quem esperar

Desesperança e o deserto

Abandono interior

a intensa dor que queima o peito.

Clamo e ninguem responde

Todo o universo permanece mudo.

Gritos silenciosos de desespero.

De uma alma solitaria

De uma solidão absurda

Somente temor e pavor

O ultimo entre os homens

Deixado por todos

O vazio interior

No fundo do poço

Nessa condição

Encontro forças pra lutar

O meu amado não me abandona

O Esposo fiel

Ele está sempre comigo

Seguro nas mãos Dele

Não deixarei O mais.

Ele è minha segurança

Me consola e faz seguir adiante.

Esperança que me faz lutar.

O olhar



O que havia no olhar daquele homem?

Que olhou a pecadora com ternura.

Olhou e disse nao peques mais

Olhou e disse :”vem e segueme”

Olhou e disse: menina levanta-te

O que transmitia esse olhar?

Olhar que ilumina o coraçao da gente.

Faz sentir Deus que nos ama

Acolhe

Integra

Plenifica.

Muda o sentido da nossa vida

Olhar que le nossa alma.

Que ve atraves das aparencias

Olhar que desarma os violentos

Acaricia os carentes.

Da um sentido a vida de quem esta perdido.

Mostra uma vida nova a quem caminha nas sombras

Esse olhar que ilumina a nossa vida

Quando somos vistos por esse olhar

E olhamos e nos deixamos olhar

Nos deixamos tocar profundamente

E nossa vida

Nunca nunca mais

Sera

A mesma.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Coragem de questionar-se.



“Pensar é afervorar o desejo de sabedoria da realidade é inflamar-se por ela. Isto significa “ ir em direção as coisas em si mesmas”, aproximar-se delas, ficar junto e sugar o seu sentido, o seu sabor”

(Arcângelo Buzzi)

É preciso ter coragem para se aventurar no processo de leitura da realidade. Às vezes, se torna uma tarefa dolorosa desprender-se de si e caminhar ao encontro do outro, do mundo e de Deus vencendo o “ensimesmamento” e o individualismo, posturas tão comuns em nosso tempo. Só conseguimos conhecer parcialmente a realidade na relação, vamos construindo a consciência sobre ela, através da prática e da reflexão sobre esta prática num processo “autopoiético”, como uma criança que vai se relacionando com o mundo, se conhecendo e a ele.

No pensamento teológico as coisas se dão dessa maneira: vamos construindo a teologia e nos construindo juntos, nos deixando tocar pela realidade e a tocando numa relação bem intíma. Conseguimos fazer teologia bem quando percebemos que estamos em constante construção, em aprendizagem permanente sempre se aprofundando no mistério e na realidade. Tendo em mente sempre este horizonte fica mais fácil não cairmos em duas posturas reducionistas: a primeira nos estagnar em um absolutismo, tendo o conteúdo recebido como a verdade ultima e universal, perdendo-se em rubricas, legislações, sendo fixista, reduzindo a realidade, enquadrando-a em nossas normas, ou impondo sobre ela um idealismo, seria isso um absolutismo anacrônico e alienante. A segunda postura seria assumir um relativismo barato, uma tendência a sempre acolher “a novidade”, sem questioná-la e sem perceber suas possíveis conseqüências, o que de certa forma se caracteriza como um “modismo”, essa ou aquela tendência que está na moda.

O sensato seria apelar para o equilíbrio, perceber o que é essencial e deve ser mantido, deixar-se constantemente questionar-se pela realidade. Através de uma ação refletida que anseia mudança pode-se propor um objetivo, sendo consciente do que queremos atingir com a conduta adotada.

A realidade não é fixa e absoluta está em movimento, sempre muda, climaticamente, as mentalidades, e nós também vamos agindo e influindo sobre ela. Por isso, temos que estar sempre a escutá-la o que sabíamos ontem sobre ela pode não ser o que iremos ver ou ouvir hoje. Ela se apresenta complexa, diversa, pluriforme e nós homens e mulheres de fé somos chamados a dar uma resposta criativa que ilumine a realidade.

As tecnologias, os meios de exploração, as injustiças sociais, a violência institucionalizada, os processos econômicos, a depredação do meio ambiente, as pessoas tratadas como objeto descartável exige de nós uma resposta a partir da fé cristã.

O que temos a dizer sobre a realidade? Temos que fazer uma síntese de nossos valores questionados por essa realidade. Como falamos de Ressurreição e vida frente à realidade de morte? E a boa noticia?

O chão onde pisamos é muito importante para entender o que nossos olhos vêem. A nossa reflexão depende de que lugar estamos vendo o mundo. Qual o rosto de Deus que emerge no século XXI para nós teólogos e teólogas latino-americanos? Certamente a realidade não é mesma das décadas de 60, 70 e 80 e conseqüentemente a resposta não deve ser a mesma. Muitos abriram caminhos na reflexão deram respostas, talvez elas nos ajudem a enfrentar os nossos desafios. As perguntas se lançam aqui e agora. Nossa prática caminha junto com nossa reflexão? Somos “teólogos orgânicos?” Construímos teologia com o nosso povo a partir da realidade ou repetimos uma teologia de escritório elaborada distante de nós.

Pensar e repensar a nossa práxis é a nossa missão cotidiana. Os desafios são muitos, é preciso alargar os horizontes, navegar para as águas mais profundas sem medo. Tarefa urgente é repensar nossos conceitos, rever. A realidade nos convoca! Coragem e ousadia, são precisas. Nos sentimos desafiados a recomeçar sempre?“ Se não houver frutos valeu a beleza das flores. Se não houver flores valeu a sombra das folhas. Se não houver folhas valeu a intenção das sementes” È preciso começar: lançar as redes, semear e caminhar.

Míriam do Povo


Nossa Senhora, Consoladora dos aflitos e acolhedora dos contritos, lembre-se dos desempregados e dos acidentados.

Maria que lavava roupa também, lembre-se dos pecadores e marisqueiros, lembre-se da labuta das lavadeiras.

Maria , mãe dona de casa oriente as empregadas domésticas,

oriente as empregadas domésticas, as faxineiras e suas “donas”, acolha as costureiras e doceiras .

Filha fiel ao seu povo e ao nosso Pai; liberta esse povo lavrador e machadeiro, quem faz carvão e carrega madeira , quem planta pinho e espalha “veneno”.

Esposa acolhedora do seu carpinteiro, lembre-se dos carpinteiros, mecânicos e marceneiros, dos eletricistas, encanadores e sapateiros, dos pintores, soldadores e pedreiros.

Os meninos que vivem de carrinho de mão, os bagageiros, ambulantes, biscateiros e barraqueiros.

Maria cozinheira de Nosso Salvador, dê forca as merendeiras e cozinheiras.

Nossa Senhora da cidade e da roça , lembre-se de todos os trabalhadores nossos que ficam na rua assentando tijolos, varrendo, limpando e se organizando; que ficam no campo com feijão para colher e com o gado dos outros pra recolher, e roga por nós.

( Esta ladainha é fruto de uma reflexão feita por grupo de trabalhadores rurais de Entrerios, Bahia )

WWW. DEUS. COM : “ E logos se fez site”- Como falar de Deus no mundo virtual?[1]

Há alguns nos detivemos no Congresso de Teologia sobre essa temática. Talvez as reflexões feitas naqueles dias já estejam precisando ser retomadas ou até já estão desatualizadas. Daqueles dias até hoje quantos softwares já foram lançados? Quanto o hardware não se sofisticou e ficou mais potente? Se pensa em inclusão digital, a tecnologia via informática criou ainda mais uma modalidade de exclusão.

O orkut através de suas comunidades propicia uma interação fantástica, levando em consideração as afinidades. Como quase tudo é uma coisa ambígua, propicia fortalecimento de laços de amizade, reencontrar amigos, porém, pode disseminar vícios e perversões contribuindo para a degradação do humano. A nova linguagem criada na internet, se fala de “internets”, usado pelos jovens e adolescentes tem uma outra lógica , tudo se abrevia ; por exemplo: De onde você tecla? , se escreve assim: tc de onde?, Falou , se escreve assim, FLW e cadê você? : Kd vc?

Todas essas mudanças tecnológicas e nos meios de comunicação nos colocam diante de uma nova maneira de falar do ser humano e de falar com o ser humano. A internet e toda a superprodução dos meios de tecnologia são um instrumento. A questão é estão a serviço de que? de quem? Ela pode ser mais um meio de evangelização? Surge daí várias problemáticas. Muitas vezes temos uma tecnologia de ponta a serviço de uma mentalidade medieval. Todos os meios tecnológicos de ultima geração servindo a uma mentalidade anacrônica. Penso que temos um ruído na comunicação.

Outras vezes fazemos simplesmente todos fazem. Há uma febre todas as paróquias têm sites. Será que de fato são meios de evangelização? O que esses sites tem de diferencial em relação a tantos outros? São atrativos. comunicam uma “boa nova”? Ou são simplesmente para mercado religioso como os que estão no mercado? Como apresentar a boa nova na realidade virtual?

As pessoas ficam chateando(usando o chat[2]) esse meio as ajuda a serem mais gente ou se aprofundarem na alienação, no faz de conta, criando sujeitos ideais que não correspondem a verdade da pessoa. Toda essa facilidade de meios conflui para uma melhor comunicação? O ser humano se relaciona de verdade ou reforça a cultura do descartável? A Igreja consegue se inserir nesse mundo e apresentar a sua proposta? E a vida religiosa consegue dialogar ou prefere se reservar ao “fuga mundi”? É possível fazer acontecer a Palavra de Deus no mundo virtual? A teologia que nasce e cresce na história como se comporta no mundo virtual? Como falar de Deus hoje com o mundo virtual?

Para apresentar a “boa nova” é preciso uma reconstrução da vida e da comunidade por meios alternativos. Nesse contexto de cibercultura a porta da entrada do logos é a interatividade e a morte do usuário nesse caso é a passividade diante desse processo. Toda a humanidade pode ser uma fonte de interatividade. Essa proposição é uma grande esperança.

Para que o ser humano se torne inteiro, se forme, informe se torne ciente, se constitua como um todo, se transforme seja integro, para agir e interagir, existe ainda muitos obstáculos.

A comunicação de massa, no mau sentido, onde a massa é mobilizada e recebe os estímulos passivamente. Essas informações são instrumentos de uma ideologia perversa. A tecnologia midiática está nas mãos de alguns e a serviço de um determinado fim. Em nosso país quem forma a mentalidade de nossa população, a televisão, na qual a rede Globo é a primeira colocada. A serviço de quem estão os valores colocados por meio das telenovelas e “ realit shows” . As revistas mais lidas no país são : Isto é, Época, Veja. Qual é a mola propulsora de sua ideologia? Qual a base? O que está de pano de fundo e direcionamento das informações veiculadas por esses meios? Também servem de anestésicos para a dureza da realidade. Quem são os maiores leitores das revistas Contigo e Caras? Os pobres. Neles é ativado o desejo mimético de viver uma vida paradisíaca, em castelos ao lado de pessoas belas segundo os padrões da mídia. Todos esses meios estão a serviço e uma massificação ‘a distancia. O individualismo é reforçado. A responsabilidade social é despersonalizada. Oposto da solidariedade é pregado e fortalecido: cada um na sua, mas todos ligados a fonte de distorção dos valores humanos.

A comunidade pode se personalizar. Mas podemos cair num mundo virtual que seja na personificação do egoísmo . A teologia é palavra que deriva do logos. A pretensão é dizer uma palavra humana sobre Deus. Como diz São Tomás: “ De Deus sabemos só que Ele não é”. A medida que se limita aquele que está acima dos limites não se faz religião, e sim negá-se a religião. A teologia começa pela admiração, é um silêncio e homenagem diante de Deus. Toda a comunidade é chamada a salvação. Somente o logos irradia amor, justiça, fraternidade. O mundo deve ser compreendido como um código de uma linguagem que seja o intercambio e nos conduza além do campo de interesses.

Abrimos-nos a PALAVRA- COMUNICADORA, o logos. Crer no amor universal é a essência do Evangelho. Nesse caminho se interpõe o antagonismo do binômio: amor virtual – amor real . Seria o amor virtual, real? Assume de fato a verdade das coisas, das pessoas, da realidade? Seria possível encontro do mundo virtual com o logos? Como é o ciberespaço na presença do logos? A comunicação deve se intensificar conectando todo ser humano. O site que deve acolher o Verbo deveria ser uma tenda vazia , em disponibilidade para o Bem. Precisamos limpar o site de todo o material ambicioso. Considerar a mídia e a internet como um simples instrumento, algo parcial.

Classicamente aprendemos, que fora da Igreja não há salvação ( Ex ecclesia nulla sallus). E. Schillebeeckx, nos diz que, fora do mundo não há salvação. Hoje poderíamos dizer que fora do sistema não há salvação. A solução é deixar logos falar. Criar redes onde circulam os valores humanos e evangélicos. Não nos colocarmos contra o sistema só porque não entendemos sua lógica, mas descobrirmos como ele trabalha e engendrar a vida dentro dele. A estratégia é projetar uma nova humanidade. Um novo modelo de Igreja. A Igreja que nasce da força da palavra, está na hora de voltar para a Palavra se converter a Ela, criar um novo paradigma teológico atento as diversas modalidades da Palavra hoje.

A palavra-virtual só tem valor se for um diálogo com a realidade das pessoas privilegiando o encontro corpóreo, rosto a rosto.

Na era da comunicação é essencial conhecer a linguagem, saber como utilizá-la. Cada veículo de comunicação tem sua ideologia e a linguagem que lhe é característica.

No mundo contemporâneo a solução é a semelhança de Teilhard Chardin, que falava da noosfera, seguindo sua lógica devemos falar em semiosfera (semion=signo).

Podemos citar pelo menos seis eras até chegarmos a nossa, são elas: a era da cultura oral, da escrita, da imprensa, de massa, das mídias e a atual a era digital.

A cada uma dessas eras acrescenta-se a complexificação da realidade. Para compreender essas realidades e não repetir erros do passado a história nos ajuda, fazer memória desse passado e enfrentar o futuro. Conhecendo bem a cultura não caímos na brutalidade de realizar ações cegas.

Tudo isso deve ser levado em conta para uma reflexão sobre o virtual. Lembrando ainda que existe uma fissura: por mais perfeita que seja a representação, ela é representação e não totalmente a fiel a realidade. A cultura de mídia é a mistura de várias culturas. Tudo esta a disposição e você não sabe o que busca. A raiz desse problema é mais ampla está no conflito ou no distanciamento de natureza x cultura – ambas estão afastadas.

Santo Agostinho nos mostra que o homem está sempre arredio em relação a Deus. A queda é o mau funcionamento do ser humano, com o livre arbítrio a atitude virtuosa não significa felicidade.

Nas ultimas décadas sentimos isso com a morte de Deus ou o discurso pragmático sobre Deus. Rousseau nos mostra que em grande parte isso acontece com o problema do mal. A tragédia humana começa quando o ser humano começa a distanciar a necessidade do desejo.

O ser humano pode curar-se no âmbito histórico. A natureza humana é perfectível dentro do próprio ambiente em que se define. O ser humano continua sendo um ser que se pergunta: Por que estou aqui? O percurso da ciência humana nos leva a dizer: “ sou fruto do acaso”. A desgraça humana é descolar a história humana da natureza. O mal é construção social . Por isso existe uma crise de fundamento. Existem relações desiguais entre paises desenvolvidos e paises em desenvolvimento ( 3º mundo). E nas sociedades existe muita desigualdade entre as pessoas. A dialética entre o supérfluo e a falta. São muitos os desafios diante deles é preciso:

- Assumir o mundo virtual por dentro gerando um espaço para encarnação do logos , que ele possa fazer novas todas as coisas.

- Reconstruir a história gerando a esperança

- Colocar a Teologia bem próxima da vida, que ela como o logos se encarne.

- Saber como se comunicar na pós modernidade onde o ser humano se organiza de outra maneira e necessita de uma mensagem que corresponda a seus anseios.

- Explicitar a Boa Nova hoje sem que ela deixe de ser Boa Nova apesar do contexto virtual.

Humildade para assumir as coisas desde o chão da vida, não se colocando como quem sabe tudo, mas é preciso inculturar-se.



[1] Reflexão feita a partir da exposição de Eduardo Hoonaert

[2] Sala que a pessoa usa para bate-papo virtual, onde pode criar um nome e muitas vezes um personagem.

O Evangelho de Marcos na ótica das novas relações.

Iniciando nossa reflexão é necessário nos determos na palavra “Evangelho”. Muitas vezes essa palavra cai no uso corriqueiro e nos ficamos simplesmente no seu sentido religioso.

A palavra Evangelho “Boa Nova” , tem um sentido impactante, revolucionário, transformador e rico de significação.

Nos tempos idos como hoje vários grupos têm o seu evangelho, apresentam a sua boa nova. A sociedade, o Império todos conduzem a um estilo de vida e apresentam um Salvador. Em meio a todos esses grupos as comunidades apresentam a sua Boa nova, que não é qualquer noticia. Como apresenta Marcos é “Evangelho de Jesus Cristo, filho de Deus”(Mc1,1).

Essa “Boa Nova”, Evangelho provoca mudança, nos toma profundamente e exige uma “metanóia”, uma transformação que nos leva a criar uma disposição para que o reinado de Deus aconteça em nossa vida.

Na teologia apresentada por Marcos Jesus se encontra com os discípulos se relaciona com eles e faz diferença em sua vida. Essa primeira comunidade que se forma em torno de Jesus pode ser tomada por nós como modelo de uma primeira Igreja.

Que entende que seguir Jesus é desafiante, o caminho é exigente mas é preciso seguir. O discípulo / a de Jesus é chamado a estar com ele, mesmo enfrentando as dificuldades e seguir seus passos, recriar suas atitudes. Depois de passar por essa experiência profunda com Jesus somos convocados a viver relações libertadoras.

Jesus se coloca diante das pessoas e enxerga o traço de dignidade no intimo da pessoa. Ele se coloca diante das pessoas, as toca, olha em seus olhos, rompe o muro do preconceito que separa as pessoas. Ele ordena: “levanta - te, vem para o meio”(Mc3,3). Em cada encontro de Jesus com as pessoas, ele as chama para viver sua dignidade esquecida, machucada.

Jesus parte da Galiléia enxergando o seu ministério, de fazer a boa nova acontecer na vida das pessoas e termina chegando em Jerusalém .

Onde os opressores que tiram a dignidade das pessoas tentam eliminar a Boa Nova de Jesus. Porém, Jesus ressuscita , é vida que brota, a Boa Nova ganha ainda mais força de vida> E os discípulos são chamados a voltar para a Galiléia lá é possível encontrar Jesus. A continuação da missão recebida pelo Ressuscitado continua na Galiléia é para lá que os discípulos(as) devem se dirigir, lá eles são necessários. Quanta gente ferida está a beira do caminho nas Galiléias da vida. Quantas pessoas prisioneiras de ideologias de morte? Os que sofrem doenças físicas, mas de depressão, solidão, abandono. Quantas mágoas e amarguras, preconceito e exclusão?

Quem esteve com Jesus aprende dele a devolver a dignidade humana. A curar os corações feridos. Reconstruir relações libertadoras. O afeto transforma e cura.

Marcos nos ensina a fazer o caminho com Jesus despertando relações de amor e ternura que mudam a vida das pessoas. A boa nova é vivencia concreta na vida de cada um. E você tem coragem de partir e voltar para a Galiléia?

Salmo 133. “A Fraternidade”


É uma festa e causa alegria ao coração quando os irmãos e as irmãs se encontram na vida.Quando conseguem transpor as barreiras que os separam: egoísmo, preconceito, ódio desejo de ser, poder e ter.

Mas superam sentam-se a mesa da fraternidade, onde todos são iguais.

Não existem negros e brancos; homens e mulheres; idosos e jovens, homossexuais e heterossexuais, mas todos são irmãos.

É como a unção abundante:

Poder andar pelas ruas sem medo

Contar com os amigos em momentos se solidão.

Encostar –se em uma cama quentinha em noite fria.

O sedento se saciar de água.

Fartar-se o faminto.

A casa da Acolhida.

A hospitalidade;

Repousar os pés após a viagem.

O abraço aberto,

Cessa a ameaça

A paz

È como a chuva no sertão do Nordeste que verdeja os campos secos,

Enche as cisternas e gera a vida.

Como o Sem terra que consegue o pedacinho de chão pra plantar.

O Sem teto sua casinha.

Descobrir a gratuidade de Deus nas pequenas coisas.

Um tesouro em cada respiro.

A força do Espírito de Deus na união dos pequenos.

A benção de Deus é gerar vida na gratuidade.

Porque celebrar o domingo?

Há algum tempo o Papa João Paulo II escreveu uma Carta Apostólica sobre o domingo, chamada, Dies Domini ( O dia do Senhor), dirigindo este documento a todos. Com certeza esse documento deve ter um impacto em nossa vida, já que vivemos em tempos de quebras de tradições e inserção de novos costumes. É um tempo de mudança de época e época de mudança. Nesse tempo tão confuso e cheio de discurso nos colocamos perdidos sem saber que rumo tomar , é preciso parar e discernir, reciclar algumas coisas e aprofundar outras.

Sabemos da luta travada por todos nos para providenciar o necessário a nossa sobrevivência. Temos que trabalhar muitas vezes até o domingo. Levando em consideração que a situação econômica do pais não é das melhores, e muitos estão desempregados, nos submetemos até para manter nosso trabalho.

No Antigo Testamento, no livro do Gênesis, diz que no sétimo dia, Deus descansou. Nesse texto está presente uma mensagem de libertação. O povo estava escravo no exílio e era obrigado a trabalhar de sol a sol, este grupo escreve esse relato da Criação, onde Deus descansa. De fato, Deus não precisa descansar , mas todos nós seres humanos precisamos. Então, os judeus começaram a celebrar o “shabbat”, o dia de sábado e o celebram até hoje.

Com o tempo “ a lei do sábado”, que nasceu para libertar o povo, esse dia era usado para estar juntos, celebrar a memória , rezar e descansar, passou a ser usado por lideres religiosos para oprimir homens e mulheres. Jesus lutou contra esse uso indevido do sábado, segundo Ele a lei era para ajudar a manutenção da vida e não para limitá-la. A lei como barreira não aproxima o homem de Deus, mas afasta. Afina, o sábado é para o homem e não o contrário.

Jesus sempre defendeu a dignidade da pessoa e enfrentou essa perversa ideologia do sábado tanto que ele Ressuscitou no domingo dia que se tornou sagrado para todos nos cristãos, o dia do Senhor. Dia consagrado a celebração da páscoa semanal, para a oração, encontro fraterno, para estar a serviço dos carentes, dos doentes, para se dedicar a Deus.

Por isso, devemos dedicar nosso domingo a fazer memória do Cristo, usando esse dia para participar da Eucaristia. Devemos nos tornar cada vez mais eucarísticos tanto na freqüência ao celebração da Eucaristia, com sê-lo em nossas casas. Quanto é eucarístico reunir a família a mesa para partilhar, o alimento, mas também os acontecimentos bons da semana, a convivência. A freqüência a Eucaristia deve nos transformar em missionários. Pois ao receber a benção, no final da celebração nos somos enviados para viver a Eucaristia no mundo sendo testemunho do Cristo, anunciadores da boa nova. Somos convocados a visitar os doentes, levar uma palavra amiga(uma boa noticia), aos asilos, orfanatos, hospitais, prisões. A benção não é o fim da celebração da vida,mas o inicio de tudo, a missão começa.

É séria a nossa convocação para celebrar o dia do Senhor, consagrar o dia a Ele, na oração , no estudo e meditação da palavra, no trabalho missionário, de presença e testemunho de Cristo, em casa e no mundo social. Tudo isso faz parte da santificação do domingo.

Será que estamos santificando o domingo? E a nossa missão como vai? Nos somente cumprimos o preceito dominical, talvez nem isso? Quantas horas gastamos diante da “deusa” televisão, essa poderosa divindade tecnológica que nos encanta? Estamos nos alimentando com suas imagens será que selecionamos ou engolimos tudo?

Não que seja pecado assistir futebol ou se dedicar ao lazer, mas também precisamos nos envolver para bem celebrar o dia do Senhor. Essa é nossa tarefa como cristãos, cada cristãos, e todos os cristãos!

Que Deus nos ajude a viver os domingos intensamente santificando nossos dias, com a família, também com o lazer. Que os outros vejam a nossa alegai em celebrar o domingo e se alegrem conosco e louvem a Deus.