segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

WWW. DEUS. COM : “ E logos se fez site”- Como falar de Deus no mundo virtual?[1]

Há alguns nos detivemos no Congresso de Teologia sobre essa temática. Talvez as reflexões feitas naqueles dias já estejam precisando ser retomadas ou até já estão desatualizadas. Daqueles dias até hoje quantos softwares já foram lançados? Quanto o hardware não se sofisticou e ficou mais potente? Se pensa em inclusão digital, a tecnologia via informática criou ainda mais uma modalidade de exclusão.

O orkut através de suas comunidades propicia uma interação fantástica, levando em consideração as afinidades. Como quase tudo é uma coisa ambígua, propicia fortalecimento de laços de amizade, reencontrar amigos, porém, pode disseminar vícios e perversões contribuindo para a degradação do humano. A nova linguagem criada na internet, se fala de “internets”, usado pelos jovens e adolescentes tem uma outra lógica , tudo se abrevia ; por exemplo: De onde você tecla? , se escreve assim: tc de onde?, Falou , se escreve assim, FLW e cadê você? : Kd vc?

Todas essas mudanças tecnológicas e nos meios de comunicação nos colocam diante de uma nova maneira de falar do ser humano e de falar com o ser humano. A internet e toda a superprodução dos meios de tecnologia são um instrumento. A questão é estão a serviço de que? de quem? Ela pode ser mais um meio de evangelização? Surge daí várias problemáticas. Muitas vezes temos uma tecnologia de ponta a serviço de uma mentalidade medieval. Todos os meios tecnológicos de ultima geração servindo a uma mentalidade anacrônica. Penso que temos um ruído na comunicação.

Outras vezes fazemos simplesmente todos fazem. Há uma febre todas as paróquias têm sites. Será que de fato são meios de evangelização? O que esses sites tem de diferencial em relação a tantos outros? São atrativos. comunicam uma “boa nova”? Ou são simplesmente para mercado religioso como os que estão no mercado? Como apresentar a boa nova na realidade virtual?

As pessoas ficam chateando(usando o chat[2]) esse meio as ajuda a serem mais gente ou se aprofundarem na alienação, no faz de conta, criando sujeitos ideais que não correspondem a verdade da pessoa. Toda essa facilidade de meios conflui para uma melhor comunicação? O ser humano se relaciona de verdade ou reforça a cultura do descartável? A Igreja consegue se inserir nesse mundo e apresentar a sua proposta? E a vida religiosa consegue dialogar ou prefere se reservar ao “fuga mundi”? É possível fazer acontecer a Palavra de Deus no mundo virtual? A teologia que nasce e cresce na história como se comporta no mundo virtual? Como falar de Deus hoje com o mundo virtual?

Para apresentar a “boa nova” é preciso uma reconstrução da vida e da comunidade por meios alternativos. Nesse contexto de cibercultura a porta da entrada do logos é a interatividade e a morte do usuário nesse caso é a passividade diante desse processo. Toda a humanidade pode ser uma fonte de interatividade. Essa proposição é uma grande esperança.

Para que o ser humano se torne inteiro, se forme, informe se torne ciente, se constitua como um todo, se transforme seja integro, para agir e interagir, existe ainda muitos obstáculos.

A comunicação de massa, no mau sentido, onde a massa é mobilizada e recebe os estímulos passivamente. Essas informações são instrumentos de uma ideologia perversa. A tecnologia midiática está nas mãos de alguns e a serviço de um determinado fim. Em nosso país quem forma a mentalidade de nossa população, a televisão, na qual a rede Globo é a primeira colocada. A serviço de quem estão os valores colocados por meio das telenovelas e “ realit shows” . As revistas mais lidas no país são : Isto é, Época, Veja. Qual é a mola propulsora de sua ideologia? Qual a base? O que está de pano de fundo e direcionamento das informações veiculadas por esses meios? Também servem de anestésicos para a dureza da realidade. Quem são os maiores leitores das revistas Contigo e Caras? Os pobres. Neles é ativado o desejo mimético de viver uma vida paradisíaca, em castelos ao lado de pessoas belas segundo os padrões da mídia. Todos esses meios estão a serviço e uma massificação ‘a distancia. O individualismo é reforçado. A responsabilidade social é despersonalizada. Oposto da solidariedade é pregado e fortalecido: cada um na sua, mas todos ligados a fonte de distorção dos valores humanos.

A comunidade pode se personalizar. Mas podemos cair num mundo virtual que seja na personificação do egoísmo . A teologia é palavra que deriva do logos. A pretensão é dizer uma palavra humana sobre Deus. Como diz São Tomás: “ De Deus sabemos só que Ele não é”. A medida que se limita aquele que está acima dos limites não se faz religião, e sim negá-se a religião. A teologia começa pela admiração, é um silêncio e homenagem diante de Deus. Toda a comunidade é chamada a salvação. Somente o logos irradia amor, justiça, fraternidade. O mundo deve ser compreendido como um código de uma linguagem que seja o intercambio e nos conduza além do campo de interesses.

Abrimos-nos a PALAVRA- COMUNICADORA, o logos. Crer no amor universal é a essência do Evangelho. Nesse caminho se interpõe o antagonismo do binômio: amor virtual – amor real . Seria o amor virtual, real? Assume de fato a verdade das coisas, das pessoas, da realidade? Seria possível encontro do mundo virtual com o logos? Como é o ciberespaço na presença do logos? A comunicação deve se intensificar conectando todo ser humano. O site que deve acolher o Verbo deveria ser uma tenda vazia , em disponibilidade para o Bem. Precisamos limpar o site de todo o material ambicioso. Considerar a mídia e a internet como um simples instrumento, algo parcial.

Classicamente aprendemos, que fora da Igreja não há salvação ( Ex ecclesia nulla sallus). E. Schillebeeckx, nos diz que, fora do mundo não há salvação. Hoje poderíamos dizer que fora do sistema não há salvação. A solução é deixar logos falar. Criar redes onde circulam os valores humanos e evangélicos. Não nos colocarmos contra o sistema só porque não entendemos sua lógica, mas descobrirmos como ele trabalha e engendrar a vida dentro dele. A estratégia é projetar uma nova humanidade. Um novo modelo de Igreja. A Igreja que nasce da força da palavra, está na hora de voltar para a Palavra se converter a Ela, criar um novo paradigma teológico atento as diversas modalidades da Palavra hoje.

A palavra-virtual só tem valor se for um diálogo com a realidade das pessoas privilegiando o encontro corpóreo, rosto a rosto.

Na era da comunicação é essencial conhecer a linguagem, saber como utilizá-la. Cada veículo de comunicação tem sua ideologia e a linguagem que lhe é característica.

No mundo contemporâneo a solução é a semelhança de Teilhard Chardin, que falava da noosfera, seguindo sua lógica devemos falar em semiosfera (semion=signo).

Podemos citar pelo menos seis eras até chegarmos a nossa, são elas: a era da cultura oral, da escrita, da imprensa, de massa, das mídias e a atual a era digital.

A cada uma dessas eras acrescenta-se a complexificação da realidade. Para compreender essas realidades e não repetir erros do passado a história nos ajuda, fazer memória desse passado e enfrentar o futuro. Conhecendo bem a cultura não caímos na brutalidade de realizar ações cegas.

Tudo isso deve ser levado em conta para uma reflexão sobre o virtual. Lembrando ainda que existe uma fissura: por mais perfeita que seja a representação, ela é representação e não totalmente a fiel a realidade. A cultura de mídia é a mistura de várias culturas. Tudo esta a disposição e você não sabe o que busca. A raiz desse problema é mais ampla está no conflito ou no distanciamento de natureza x cultura – ambas estão afastadas.

Santo Agostinho nos mostra que o homem está sempre arredio em relação a Deus. A queda é o mau funcionamento do ser humano, com o livre arbítrio a atitude virtuosa não significa felicidade.

Nas ultimas décadas sentimos isso com a morte de Deus ou o discurso pragmático sobre Deus. Rousseau nos mostra que em grande parte isso acontece com o problema do mal. A tragédia humana começa quando o ser humano começa a distanciar a necessidade do desejo.

O ser humano pode curar-se no âmbito histórico. A natureza humana é perfectível dentro do próprio ambiente em que se define. O ser humano continua sendo um ser que se pergunta: Por que estou aqui? O percurso da ciência humana nos leva a dizer: “ sou fruto do acaso”. A desgraça humana é descolar a história humana da natureza. O mal é construção social . Por isso existe uma crise de fundamento. Existem relações desiguais entre paises desenvolvidos e paises em desenvolvimento ( 3º mundo). E nas sociedades existe muita desigualdade entre as pessoas. A dialética entre o supérfluo e a falta. São muitos os desafios diante deles é preciso:

- Assumir o mundo virtual por dentro gerando um espaço para encarnação do logos , que ele possa fazer novas todas as coisas.

- Reconstruir a história gerando a esperança

- Colocar a Teologia bem próxima da vida, que ela como o logos se encarne.

- Saber como se comunicar na pós modernidade onde o ser humano se organiza de outra maneira e necessita de uma mensagem que corresponda a seus anseios.

- Explicitar a Boa Nova hoje sem que ela deixe de ser Boa Nova apesar do contexto virtual.

Humildade para assumir as coisas desde o chão da vida, não se colocando como quem sabe tudo, mas é preciso inculturar-se.



[1] Reflexão feita a partir da exposição de Eduardo Hoonaert

[2] Sala que a pessoa usa para bate-papo virtual, onde pode criar um nome e muitas vezes um personagem.

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