A teologia espiritual tem como objeto do seu estudo a “experiência de
Deus” chamamos atenção, ao evidenciar essas palavras, colocando-as entre aspas,
mesmo se as usamos não seriam adequadas e “experiência”, dentro desse contexto
pode ser entendida sempre como de, sinônimo de “vivido”. Colocamos advertência
em relação aos termos por dois motivos:
O primeiro que não é verificável a “experiência de Deus”, como na
compreensão que temos dessa palavra na sua atribuição cientifica, o fazer
experiência, cientificamente falando, entendida como aquilo que se pode medir, ou analisar, desmontar, comprovar, como se
pode fazer com um corpo, através da utopsia, ou com objeto, por exemplo, uma
cadeira, é possivel desmontá-la medi-la e falar em termos quantitativos e
qualitativos, no que se refere a experiencia de Deus, não é possível atingí-la
diretamente, em sí mesma. Justamente, por isso,
o instrumento privilegiado para
nos aproximarmos, o quanto possível desse relacionamento com
Deus, vivenciado pelo ser humano na sua integridade é analisando os seus
escritos e testemunhos, onde podemos colher os elementos que podemos usar para
compreender o quanto possível é essa experiência.
O segundo é que o termo “experiência” nesse caso é utilizada não no sentido empírico-prático,
de algo misurável e demonstrável quantitativa e qualitativamente, mas deve ser
entendido de outra maneira, já que não encontramos uma palavra mais apropriada
para descrever, essa vivencia
experimentada pelo indivíduo que se relaciona com Deus, mas pode ser entendida
no sentido de, vivenciado, vivido existencialmente, experimentado, como relação
com Deus.[1]
Nesse pequeno texto nos propomos a repercorrer o Testamento de Frei Luis
Quadrelli explicitando momentos tidos como fortes na sua experiência, como a
vocação e como ela é vista por ele, o seu ministério pastoral em favor da TOF,
e a fundação da sua obra mais importante a Pequena Companhia de Santa Isabel
dando uma enfase especial no perfil traçado por ele, para as suas consagradas
no seu Instituto.
No que se refere ao Frei Luis Quadrelli de Pietrasanta(1897-1974),
o fundador do que hoje é o Instituto Secular Pequena Fraternidade
Franciscana de Santa Isabel da Hungria, na época uma pia união formada por
tercíarias franciscanas chamada, Pequena Companhia de Santa Isabel, nome dado
por ele elo fundador que propunha as tercíarias viver segundo o modelo da santa
padroeira, em oração e na prática da caridade.
Segundo o nosso parecer o texto que mais revela a profundidade da sua experiência com Deus e
os traços particulares da sua espiritualidade especifica e do carisma deixado
por ele ao Instituto fundado por sua iniciativa é o texto: “Come Testamento Spirituale”, traduzido por nós ano de 2011, com o
título correspondente, Como Testamento Espiritual, é uma longa carta escrita
por ele, e denominada Testamento
Espiritual[2].
Foi escrita no Convento de Montughi, no
dia 18 de outubro de 1969.[3]
Segundo o nosso modo de entender
o conteúdo abordado pode ser dividido em dois eixos temáticos unidos entre sí:
o primeiro eixo temático no que se refere a vocação e ministério pastoral
iniciando a página 7 e se estendendo até a página 17, todo relato do primeiro
momento, onde conta a sua vocação
franciscana e presbiteral, e no segundo
momento o desdobramento dessa vocação no
seu intenso apostolado da pregação e da
assistencia espiritual a que hoje chamamos Ordem Franciscana Secular, na época
Ordem Terceira Franciscana, da qual nasce a pia união chamada Pequena Companhia
de Santa Isabel que se tornará Instituto Secular. O segundo eixo temático
inicia a página 17 onde o fundador começa a contar aquilo que se refere a
fundação da Pequena Companhia como nasceu, com qual objetivo, e como foi
colocada em prática essa iniciativa, por quais motivos, e no fundamentar a
finalidade da instituição, ele especifica os tratos fundamentais do que
caracterizam o modo de ser e de agir das irmãs tercíarias franciscanas de santa Isabel.
Uma primeira coisa importante é recordar esse genero literário chamado
Testamento, no qual geralmente os fundadores, os mestres espirituais ou as
pessoas que tem responsabilidade de guiar algum grupo manifestam a sua ultima vontade, alguns elementos essenciais
para a fidelidade aquele estilo de vida e aquele carisma especifico, em outras
palavras exprime a sua herança espiritual.
Nesse caso o fundador escreve os seu pensamento ao grupo que conviveu com ele para que não se
desvie da fidelidade ao caminho traçado. No caso desse nosso fundador desde o
inicio do texto é bem claro a quem é dirigida a carta e os pensamentos nela redigidos, as suas
filhas espirituais: “ as irmãs de santa Isabel”[4]
Outro elemento importante a ser levado em consideração que normalmente
quando um fundador ou uma fundadora procura sintetizar num escrito o seu
Testamento, teve a oportunidade de percorrer toda a sua vida considerando-a
sobre a condução de Deus e percebendo a presença Dele nos mais variados eventos
da sua vida, e esse recordar faz memória de toda a sua história com Deus, vendo
toda a sua vida e vocação sob o influxo da graça de Deus.
É interessante que Frei Luis Quadrelli concebe a sua vocação religiosa
franciscana não como algo individuale e separado do contexto, mas dentro de uma
leitura eclesial, porque vê como a graça
de Deus o dom de receber o chamado da parte de Deus através da colaboração de tantos outros
homens e mulheres que considera como instrumentos de Deus no discernimento da sua vocação e colaboradores de Deus no seu
projeto.[5]
A vocação é um mistério da parte do amor gratuito de Deus e somente
porque nasce da gratuidade de Deus, o ser humano é capaz de iniciativas de entrega e de abandono
aquela que se tem como a Divina Providencia. A vocação é uma resposta de amor
porque quem chama nos amou por primeiro e a partir do momento que o ser humano
vem conduzido e introduzido nessa perspectiva do mistério sente o desejo de
responder com gratuidade.
Porém Deus age na nossa história não intervindo diretamente, mas usa
instrumentos, que Frei Luis Quadrelli reconhece que são instrumentos de Deus na
descoberta da sua vocação: o seu Pai[6],
os missionários franciscanos[7], o
Frei João Bresciani, que o chama de o frade da Renilda[8].
Tantas vezes essas pessoas falaram muito mais com o seu testemunho, mais que
com as suas palavras e conduziram o pequeno Estevão (Stefano), que é Frei Luís,
a responder a graça da vocação a qual ele considera uma grande graça que é a
vocação religiosa e presbiteral e ainda mais o uso que o Senhor fez dele.[9]
Como frade capuchinho e presbítero o nosso fundador recebeu um outro chamado o
do ministério da pregação e como pregador percorreu diversos pulpitos da
Itália, também como missionário popular.
Mas o Senhor preparou o seu coração para um grande amor a Ordem Terceira
Franciscana que hoje é Ordem Franciscana Secular, por essa o frade capuchinho
foi apaixonado e fez todo tipo de iniciativa para promover a sua difusão porque
acreditava na espiritualidade franciscana secular como um caminho cristão
possível e frutuoso para todo batizado, que procurava de viver de maneira plena
a perfeição da caridade assumindo plenamente a missão do cristão no mundo e ao mesmo tempo faria muito bem as paróquias
e as cidades onde as pessoas se tornassem seriamente tercíarios.
Ele foi um apaixonado pelos santos franciscanos aos quais construiu
monumentos para render homenagem[10] e
se desdobrou na assistencia a TOF, quase
ao ponto de por onde passava formar uma fraternidade da TOF. Trabalhou incansavelmente na organização da
Terceira Ordem Franciscana para que fosse mais eficaz e organizada e com isso
pudesse dar melhores resultados trabalhou a nível, local, distritual regional,
provincial e nacional, e foi um dos fundadores do Centro Nacional da TOF, em
Roma.[11]
Do seu apostolado em favor da TOF nasce a obra que ele considera, a “Pupila
dos seus olhos”[12],
que nasce da Ordem Terceira e para Ordem Terceira, a Pequena Companhia de Santa
Isabel que hoje se chama Instituto Secular Pequena Fraternidade Franciscana de
Santa Isabel da Hungria, mesmo sendo ele o fundador e o idealizador não concebe essa obra como uma idéia ou
uma obra puramente sua simplesmente, mas
a reconhece com um olhar sobrenatural centra a atenção convegendo o olhar para
aquilo que de fato a Pequena Companhia é uma obra nascida por inspiração de Deus e por isso, deve deixar-se ser conduzida pela vontade Dele para corresponder
a sua finalidade de ser escola de alta espiritualidade franciscana no mundo.[13]
O fundador traça aquilo que
podemos chamar de o perfil espiritual da irmã franciscana de Santa Isabel, que
redigi resumindo em poucas palavras: É uma esposa de Jesus[14]
que para corresponder a sua vocação de
consagrada segundo o exemplo de Santa
Isabel, deve continuar alegre mesmo na dor e amar a todos, inclusive, os que a
perseguem, e porque agindo segundo
esses principíos, deve refletir nos seus gestos e na vida a imagem de São
Francisco e Santa Isabel, e pelo seu testemunho atrair as almas para a vida
evangélica.[15]
Segundo o nosso modo de ver aqui se apresenta o núcleo do que deve ser
essencial em inspirar a vida das franciscanas de santa Isabel.
Bibliografia.
Frei Luis Quadrelli de
Pietrasanta, Como
Testamento Espiritual, Teixeira de
Freitas, 2011.
Giovanni Moioli,
L’esperienza
spirituale. Lezioni introduttive,
Milano, 1992, p.54-56.
[1] Cfr. Giovanni Moioli, L’esperienza spirituale. Lezioni introduttive, Milano, 1992,
p.54-56.
[2] Frei
Luis Quadrelli de Pietrasanta, Como
Testamento Espiritual, Teixeira de
Freitas, 2011, p. 22.
[3] Frei Luis Quadrelli de Pietrasanta, Como Testamento Espiritual, p. 3.
[4] Frei
Luis Quadrelli de Pietrasanta, Como
Testamento Espiritual, p. 7.
[5] Frei
Luis Quadrelli de Pietrasanta, Como
Testamento Espiritual, p. 9.
[6] Frei
Luis Quadrelli de Pietrasanta, Como
Testamento Espiritual, p. 9.
[7] Frei
Luis Quadrelli de Pietrasanta, Como
Testamento Espiritual, p. 10.
[8] Frei
Luis Quadrelli de Pietrasanta, Como
Testamento Espiritual, p. 10-11.
[9] Frei
Luis Quadrelli de Pietrasanta, Como
Testamento Espiritual, p.11.
[10] Cf.Frei Luis Quadrelli de Pietrasanta,
Como Testamento Espiritual, p. 13.
[11] Frei
Luis Quadrelli de Pietrasanta, Como
Testamento Espiritual, p.15-17.
[12] Frei Luis Quadrelli de Pietrasanta,
Como Testamento Espiritual, p. 21.
[13] Frei
Luis Quadrelli de Pietrasanta, Como
Testamento Espiritual, p. 22.
[14] Frei
Luis Quadrelli de Pietrasanta, Como
Testamento Espiritual, p. 23.
[15] Frei
Luis Quadrelli de Pietrasanta, Como
Testamento Espiritual, p. 22.