domingo, 14 de abril de 2013

Sem Pai


Sem Pai ...[1]
Queridos jovens, é com o coração nas mãos que escrevo a voces para contar um pequeno pedaçinho da minha história, não porque eu seja uma pessoa importante, mas para ser um testemunho daquele em que creio.
Me consagrei ao Senhor Deus e Ele me sustenta sempre nos momentos em que sou fraco  e quero deixar tudo, são nesses momentos que vejo  Ele se empoderar da mia vida e me reforçando, me renova ara que eu seja sempre disponivel a recomeçar. Eu sou o Frei Emerson, brasileiro e tenho 31 ano, sou um frade menor capuchinho que ha alguns anos me encontro na Italia.
As dificuldades  na familia.
Eu nasci numa familia que tinha algumas dificuldades como a maior parte das familias de hoje. Quando eu tinha 9 anos, os meus se divorciaram . Meu pai foi embora e a minha mãe permaneceu cuidando da familia com muito sacrificio. Eramos minha mãe, eu e uma irmãzinha que na época tinha  3 anos e a minha avó que se chamava Josefa, que depois que viuva se sentia sozinha e cansada.
Mia mãe procurava em todos os meios nos manter, não tendo títulos academicos, mas também não queria trabalhar de empregada domestica, e a única opção era trabalhar nos campos, mesmo se nesse tipo de trabalho braçal se trabalha muito e se ganha muito pouco.  Mesmo se a minha avó que era aposentada o dinheiro era pouco. Por isso, a idade de 9 anos comecei a procurar trabalho para ajudar a minha família. Então comecei a bater em tantas portas e recebi alguns não como resposta. Quando já tinha perdido as esperanças uma senhora que queria uma menina para ajudar na cozinha e cuidar do jardim me aceitou.  Naquele emprego ganhava pouco, mas tinha o que comer.
A minha avó cuidava da casa e da minha irmã e a minha mãe trabalhava fora o dia todo. Eu trabalha de manhã e estudava a tarde, as vezes nos finais de semana permanecia na casa em que trabalhava.
O fascínio por São Francisco.
O fascinio por São Francisco me entusiasmou a deixar o meu trabalho, na época secretário de uma escola de educação especial, para entrar no convento. Por quais motivos? Pela vida fraterna, pela simplicidade dos frades e sobretudo porque queria doar a minha vida aos pobres como São Francisco. Quando conheci os frades não tive dúvidas que era alí que Deus me queria.
Durante os anos da formação a vida religiosa, procurei com sinceridade de me fazer santo, mas tenho consciencia que tinha sempre muito para aperfeiçoar: não me sentia um verdadeiro filho de São Francisco. Me culpava de rezar pouco, de não ter uma vida espiritual intensa como achava que devia, de não me doar ao estudo o suficiente, e principalmente aos pobres, sentia que faltava tanta coisa.
Mesmo a questão da minha familia não era tranquila dentro de mim era um espinho. Não dizia nada a ninguém, quando alguem perguntava do meu pai, eu saia ou mudava de assunto, ou fazia alguma piadinha. Na realidade não conseguia aceitar a dor por ter sido abandonado, sentia a falta em todos os momentos importantes da minha vida,  eu sempre tinha que me virar sozinho, porque a sua presença não tinha. Me perguntava: Porque a mim? O que eu fiz para sofrer tanto assim? Tudo isso me causava um sentido de rebelião seja na relação com as pessoas, mas também em relação a Deus. Imaginem um frade capuchinho que briga até com Deus !
Em  busca do meu pai.
Os meus superiores me pediram para vir a Roma e aceitei com entusiasmo. Procurei fazer de tudo para aprender o novo idioma e o novo trabalho: ser porteiro num imenso convento chamado Colégio Internacional, onde vivem os frades capuchinhos do mundo inteiro que estudam nas universidades pontificias.
Enquanto estava na portaria e respondia o telefone e abria o portão tinham muito tempo disponivel seja para rezar, para meditar, para fazer leituras espirituais, como também para entrar dentro de mim mesmo.  E desse modo percebi os meus sentimentos mais profundos e os pensamentos escondidos dos quais antes eu não tinha plena consciencia talvez pelas atividades pastorais e a vida agitada.
E chegou o momento que tive que enfrentar o assunto familia e comecei a rezar  para ver as coisas de uma outra maneira pedindo a Deus de chegar onde eu não podia chegar. E o Senhor respondeu não do meu jeito, mas do jeito dele. Eu orei a Deus de voltar ao Brasil  e para procurar meu pai coisa que eu já tinha feito mas sem sucesso. O Senhor na sua misericórdia atendeu as minhas orações.
Através de amigos e conhecidos seguindo os conselhos e as dicas e confiando sobretudo na força da oração e fiquei sabendo que meu pai estava vivo e que se encontrava na cidadezinha Jauru. O meu coração estava angustiado e não tinha paz. Continuei a repetir: Enquanto eu não souber verdadeiramente se é ele não deixarei ninguém em paz.
Depois de dias de telefonemas e depois de incomodar as pessoas na Prefeitura, na Igreja e na Policia, uma pessoa  se disponibilizou a me ajudar e no mesmo dia eu sabia que meu pai estava vivo e se encontrava no asilo da cidade. Quando tive a certeza comecei a não dormir a noite. A solicitude paterna do Senhor se manifestou através da ternura do Reitor do Colégio, frei Isidor Peterhans, que me ajudou a preparar-me seja humanamente que espiritualmente para esse forte momento de encontro com meu pai.
Durante as férias de Páscoa voltei ao Brasil e permaneci ali com pai durante a Semana Santa. Pra mim foi o mais bonito presente que o Senhor me deu, uma verdadeira e propria Ressurreição ! Todo o sofrimento desses anos, todas as dificuldades e as rebeliões foram curadas. Assim eu pude abraçar o meu pai que por mais de 21 anos não sabia noticias dele, nem mesmo se estava vivo.


Com o coração agradecido.
Por essa   maravilha que o Senhor fez por mim sou agradecido e sempre serei! O motivo pelo qual compartilhei esse epsodio da minha vida não é aquele de colocar em evidencia a minha pessoa, mas fiz para celebrar Deus que me chamou a segui-lo, me sinto apaixonado por Ele, porque Ele me cuida , me cura,  me consola, e ama sempre. Tudo aquilo que possa fazer por Ele não é nada  se comparado ao amor que o Senhor tem para cada um dos seus filhos. Por isso, com a minha vida e a minha vocação quer entoar um canto de louvor e de reconhecimento ao Senhor. Que o Senhor vos abençoe e vos atraia para Ele para gozar do seu amor e da sua bondade que são sem limites.

Frei Emerson Aparecido Rodrigues, OFMcap.



[1] Esse artigo é a tradução em lingua portuguesa do texto publicado em italiano  na revista de animação juvenil e vocacional da Provincia Veneta dos Capuchinhos.  Fra Emerson Rodrigues, Senza Padre, in  Via Libera 2 (2012),p. 26-28.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Na boca das mulheres, o Evangelho faz caminho ...




Somos em 15 mulheres que se reúnem semanalmente para o estudo e reflexão da Bíblia e conversar, o qual chamamos de Circulo de Biblia do Stella Maris.  Grupo que está junto há mais de 10 anos, sob a orientação da Irmã Liz, hoje afastada. Às vezes, mais conversamos do que estudamos. Nossa reflexão passa e se fortalece na Palavra de Deus, porque tudo que tem ali tem na vida. Nessa reunião não existe o professor nem o aluno. Somos avós, mães, esposas, donas de casa, agentes de pastoral, enfim mulheres comuns, mas, diferentemente das mulheres da Bíblia, temos nome: Marta, Dita, Dirce, Madalena, Rose, Thereza, Selma, Celita, Maria do Carmo, Vera, Heloisa, Marialva, Rosangela, Amália, Neuza, Narcisa.
Engraçado como a palavra de Deus vai fazendo caminho dentro da gente e até onde ela vai nem sequer desconfiamos. Deixamos ela seguir livremente o caminho como um rio, às vezes encontrando obstáculos nas beiradas, às vezes seguindo bem depressinha, porque as águas estão límpidas, às vezes tornando-se turva porque está bem no raso, mas o mais importante é que ela não pára.
Tivemos uma experiência muito enriquecedora no nosso primeiro encontro do Circulo, com as mulheres que partilham a Palavra de Deus e, principalmente, a vida! A Palavra sem vida não é Palavra, e a vida sem a Palavra não é vida! Às vezes ponho-me a refletir de que sabemos mais umas das outras do que dos nossos parentes. E nos preocupamos umas com as outras e nos alegramos igualmente quando alguma delas depois de um bom tempo, reaparece. Coisas de Deus!
Estávamos meditando no Evangelho de Marcos,  o primeiro capítulo, nos versos de 1 a 13, que trata do Anúncio da Boa Nova de Deus. Depois de cantarmos alegremente, (e como adoramos cantar!),  pusemo-nos a meditar o texto: descobrir a palavra de Deus na vida. E como diz Carlos Mesters, “é aqui que se coloca o sal na comida”. Então, depois de ler em conjunto, paramos e meditamos um bom tempo, ruminando a palavra que acabamos de proclamar, transportando-a para nossa vida em família, na comunidade, no grupo, na pastoral, etc.
Nessa perícope a comunidade de Marcos, vai afirmar que assim como aconteceu com Jesus, onde  “a Boa Nova de Deus revelada por Jesus não caiu do céu, mas veio de longe, pelo chão da vida, através da história, e que essa Boa Nova teve um precursor, ou seja alguém que preparou a chegada de Jesus”, a nós também em pleno 2013, essa palavra nos chega através de pessoas que com sua história e através de acontecimentos, nos mostram e indicam um caminho que leva até Jesus.
Refletimos que a nossa vida não pode passar em branco, porque seremos julgadas pela quantidade de amor que tivermos dispensado aos nossos irmãos e irmãs. Por isso a Palavra tem que fazer um percurso na nossa vida para termos uma história.
Daí que quando passamos para o ítem  “despertar o ouvido para escutar”, nos deparamos com um questionamento: “Qual a missão que Jesus descobriu para si mesmo na hora do batismo e o que tudo isso ensina para nós hoje?” Vieram  respostas tão ricas, e tão bem fundamentadas, nascidas no miudinho da vida de cada uma, que ficamos muito tempo ouvindo .... ouvindo ..... Também de uma singeleza e de uma simplicidade que se tornaram palavras proféticas saindo da boca de mulheres.
Pronto! Agora “a comida ficou pronta!”.  Relembramos, que tal como Jesus foi enviado ao deserto, também nós estamos passando através da santa quaresma, por um tempo de deserto = purificação. Tempo em que há um clima todo especial, que nos envolve e nos faz avaliar a vida e a buscar a conversão diariamente, esperando que mesmo ao seu término, nosso exercício diário continue.
Indo mais prá frente, meditamos nessa perícope que o ensinamento, alicerçado na descoberta da missão na hora do batismo com Jesus inserido na comunidade, é o servo que pratica a justiça e a solidariedade e passa a propagar e executar o projeto do Reino de Deus,  E nós, igualmente,  no dia do nosso batismo, também ouvimos “Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo” (Mc 1,11).
Recebemos, nesse momento, cada uma de nós uma torrente de amor que brotaram dessas palavras e fomos inseridas numa comunidade de fé.  E a nossa missão não é diferente, não! Continuar a missão é o que se espera de cada uma! A nossa missão tem que obrigatoriamente passar pela missão de Jesus. Não existe outro caminho disponível, nem um atalho para que possamos desviar.
Com essa partilha terminamos a reunião, nos perguntando: “o que o texto nos faz dizer a Deus?”
Então, louvamos, cantamos e, principalmente, nos comprometemos com a prática do Evangelho, pedindo forças para não esmorecer na caminhada.
Rezamos o Pai Nosso, cantamos e fomos embora.
Semana que vem tem mais!!
                                                                                           
 Vera Roman Torres
Primeiro Dia da Páscoa de 2013