Com o meu coração ainda agitado e pleno de alegria pego na caneta e tomo o lugar a escrivaninha para escrever esse artigo. Não devemos refletir coisas sérias tomadas simplesmente pelas emoções, mesmo se não nos deixamos levar somente por elas é impossível não demonstrar os sentimentos, e confesso que os acontecimentos da ultima escolha do Papa me emocionaram e impressionaram positivamente.Durante todas as discussões a respeito do próximo Papa e do conclave sinceramente procurei não me expressar vendo que tudo era somente opinião e especulação qualquer um dos 115 cardeais poderia ser o novo Papa. Em todo caso seja no meu trabalho, no contato com as pessoas ou meus amigos perguntava quem sera o novo Papa? Sempre respondi categoricamente: “Não me interessa a cor, ou a nacionalidade do Papa ! Se sera eleito um latino-americano, um africano, ou um norte-americano. Desejo apenas que seja um homem do nosso tempo capaz de enfrentar os desafios atuais e dialogar com os seres humanos do nosso tempo com o carisma para ser um líder espiritual que saiba guiar a Igreja do século XXI.”
Ao mesmo tempo não posso esconder que fiquei entusiasmado quando se falava de Sean Patrick O’malley, o cardeal capuchinho de habito e sandálias que servia os pobres. Pela sua opção de vida, simplicidade, austeridade na pobreza, e por estar no meio do povo com disponibilidade e abertura seria belo um Papa que é irmão. Tinha ouvido uma pessoa falar do cardeal Jorge Mario Bergoglio, atualmente Papa Francisco, mas não conhecia nada do seu modo de ser e sobre o seu ministério, a unica informação que sabia é que era argentino.
Mas no momento em que o novo Papa apareceu na sacada de São Pedro não negar que foi impactante uma simplicidade desarmante. Em primeiro lugar por ter renunciado a usar todos os paramentos que se esperava do Papa e aparecer modestamente vestido de branco, e usando a mesma cruz com a qual chegou a Roma, são pequenos particulares que poderiam não dizer nada, mas sabendo sobre o seu modo de viver simples e despojado, esses pequenos símbolos de despojamento já comunicam uma profunda mensagem. A outra mensagem é o próprio nome de Francisco, que ainda não tinha sido escolhido por nenhum outro Pontífice a escolha do nome quer comunicar uma mensagem, escolheu Francisco em homenagem a Francisco de Assis, um dos santos católicos mais abertos ao dialogo conhecido e admirado em todas as religiões e culturas e respeitado até mesmo por aqueles que não creem. Francisco de Assis atravessa os muros do catolicismo e comunica a mensagem de paz, amor, e fraternidade entre todos os seres humanos, principalmente com os mais pobres e não somente entre os seres humanos irmanados mas com toda a a criação, a fraternidade universal. A escolha desse nome comunica um programa de vida e uma forte proposta de pontificado sem sombra de duvida. Outro gesto importante é o modo como se apresentou Ele disse: “ Irmãos e irmãs, boa noite !” um Papa que se coloca não acima do seu povo, mas como irmão com todos os católicos. No seu pequeno discurso falou duas vezes de fraternidade. O fato de quebrar o protocolo optando por fazer as coisas em modo muito mais simples e normal sem todas as pompas diz muito do seu modo de ser.
No discurso pronunciado não falou de si mesmo nenhuma vez como o Papa, mas sublinhou o seu ministério como o Bispo de Roma, evocando todo o significado teológico da Igreja de Roma e carga simbólica do Bispo de Roma. Destaco um pequeno trecho do seu discurso:
“ E agora iniciamos este caminho. Bispo e povo ... este caminho da Igreja de Roma que é aquela que preside todas as Igrejas na caridade. Um caminho de fraternidade, de amor e de confiança entre nós. Rezemos sempre uns elos outros. Rezemos por todo o mundo, para que haja uma grande fraternidade. Espero que este caminho da Igreja, que hoje começamos e no qual me ajudara o meu cardeal Vigário, aqui presente, seja frutuoso para a evangelização dessa bela cidade.”[1]
Foi interessante sublinhar o papel da Igreja de Roma a presidir as outras Igrejas na caridade me fez recordar a teologia patrística e os Padres da Igreja com essa expressão, além de mostrar muito mais uma posição de colegialidade e comunhão que um Pontificado centralizador como nos dois precedentes pontificados, onde todas as decisões eram tomadas a partir de Roma tirando a autonomia das igrejas particulares. A ideia de fazer um caminho juntos é interessante o que mostra que estará escutara escutando e dialogando muito mais que decidir as coisas horizontalmente.
Não tenho duvida que muitos católicos em todos os continentes que acreditam na reforma da Igreja para que ela possa corresponder a sua missão de caminhar junto com a humanidade, não acima, nem as margens, mas junto com a humanidade respondendo aos desafios dos tempos. Tantos que sonham com uma Igreja radicada extremamente no Evangelho, que esteja preocupada em servir a humanidade testemunhando vivamente os valores do Evangelho, não somente com belos discursos, mas com uma pratica de vida, que a sua hierarquia não se reduza ao papel hierarquia distante do povo, mas que os bispos sejam verdadeiramente pastores que caminho em meio ao seu povo de Deus, com esse compromisso de viver como irmãos, a Igreja como um todo possa ser missionaria em movimento, em caminho construindo o Reino de Deus, e sendo fiel a Jesus Cristo e o que Ele ensinou: o amor ao próximo.
Que a Igreja, o povo de Deus possa sair pelas estradas a anunciar e saia da sacristia, da posição defensiva em relação ao mundo terminando ou diminuindo a mentalidade curial, legalista, e juridicista Esperamos um Papa que seja um irmão de todos como o nome de Francisco sugere, que presida uma Igreja que se identifique não com o triunfalismo, a defesa institucional e de privilégios, mas que seja de um rosto humano e solidário com o ser humano do nosso tempo que caminhe pelas estradas como irmãos de todos principalmente dos pobres.
Temos a esperança de um Papa que tenha a coragem a sabedoria de fazer a reforma da Curia Romana que reduza todas as pompas, e a mentalidade da corte dos príncipes do passado, que converta a estrutura em menos burocrática e mais evangélica e que ajude a instaurar em toda a Igreja relações mais fraternas, solidarias e baseadas na simplicidade evangélica.
Precisamos de uma Igreja menos hierarquizada e mais fraterna que precisa ser purificada e edificada para que possa atingir a sua missão evangélica A esposa de Cristo tem que ter a coragem de assumir o compromisso com o Cristo Esposo Crucificado, senão assumir radicalmente essa identificação com o Cristo Crucificado poderemos ser tudo até mesmo uma ONG piedosa, mas não a Esposa de Cristo, como disse o Papa Francisco ontem na missa na capela Sistina.
Acredito do mesmo modo que tantos irmãos e irmãs pelo mundo inteiro que estamos diante de um novo tempo, e esse pontificado apresenta uma nova esperança para a Igreja Católica. Transcrevo um comentário do teólogo franciscano Leonardo Boff no Twitter “ O Papa Francisco é uma promessa. Primeiro o nome S. Francisco recebeu de Cristo pedido de reconstruir a Igreja. Francisco é um irmão universal.” , e concordo com Boff no sentido que o novo Papa é uma promessa de renovação, de conversação, de volta ao ideal evangélico, de simplicidade e acrisolamento das estruturas e uma purificação do modo de ser da Igreja de Roma. Continuo rezando para que o Espirito Santo auxilie o Pontífice na sua missão e que possa cumprir dignamente a renovação estrutural e espiritual a qual acreditamos que foi chamado. Amém
Frei Emerson Aparecido Rodrigues, OFMcap. Nascido em Santo Anastácio interior de São Paulo. Estudou Teologia Espiritual com aprofundamento em Franciscanismo. dedica- se a pastoral, a oração e o estudo dos valores franciscano-capuchinhos.
Um comentário:
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