sábado, 9 de janeiro de 2010

A silenciosa batalha interior.

“O erro não se torna verdade por se difundir e multiplicar facilmente. Do mesmo modo a verdade não se torna erro pelo fato de ninguém a ver” (Mahatma Gandhi).

O inimigo mais potente contra o qual lutamos não é um adversário externo, mas nós mesmos. Não é loucura começar uma empresa assim, mas uma necessidade para o crescimento humano-espiritual . Temos que descobrir tudo: a estratégia, os pontos fracos do inimigo, os perigos.
Talvez empregamos muito tempo para perceber as fragilidades, nos iludimos com facilidade, não enxergamos a situação real. Criamos barreiras defensivas e fantasias a respeito de nós mesmos. O “auto-conceito” é egoista, prepotente e auto-suficiente.
Podemos passar toda a vida nos enganando, tendo a necessidade de ser ou de se sentir algo: um título, um cargo, uma máscara, um papel a assumir, ou outras formas que nos distanciam do nosso “verdadeiro eu”. Precisamos dar-nos a importância e sempre colocamos uma proteção. Decidir-se por travar essa luta é para aqueles que chegaram ao ponto de não suportar viver de aparências. Sentem a necessidade de mergulhar mais profundo.
Em tempos de pós-modernidade e afirmação do “eu” pode parecer loucura uma proposta simile. O caminho para a libertação é alcançado por meio da reflexão meditada, um profundo exame de consciência e tomada de posição. Somos nós mesmos ou reproduzimos comportamento ditados pelas tendências da moda e mass media. Sentimos necessidade de elevar-nos, exaltar-nos? Temos uma vontade constante de ser, ter e poder será esse o nosso “verdadeiro eu“?
O zen budismo não propõe destruir o “eu”, mas o “falso eu”, com seus mecanismos: defesa e camuflagem. Para libertar o “verdadeiro eu” assumimos a verdade das coisas, vencendo a barreira das ilusões que distanciam do verdadeiro sentido criando uma abertura universal de comunhão com os outros, com o cosmos e com a divindade.
Os místicos cristão praticaram esse aniquilamento do “falso eu”, para emergir-se no Absoluto. Podemos citar: João da Cruz , Teresa de Jesus, ou Francisco de Assis que humildemente seguindo o Cristo crucificado consegue reconhecer que a auto-imagem, e os títulos são somente para disfarçar nossa fraqueza e nós fazer pseu-potentes, são máscaras que nos distanciam de nós mesmos, de Deus e dos outros.
Clara de Assis escreve que a luta do nú contra o vestido é injusta, quem está nú não pode ser agarrado, quem está vestido e pode ser facilmente preso e derrubado. Não perde nada quem está consciente da sua pequenez existencial diante de Deus. Estar por terra, se fazer o menor, ter consciência de ser de barro, é não pode ser diminuido ou desclassificado. O homem é aquilo que é diante de Deus e nada pode se acrescentado, por isso não tem a necessidade de defender status, a sua posição social, ou idéias.
Uma pessoa com essa humildade já não se defende de acusações alheias, não lhe interessa uma boa imagem. Está centrada na busca da verdade de sí mesmo não se deixa entreter por essas armadilhas do “falso eu” , na linguagem bíblico-ascético: não se deixa enganar pelas vaidades.
O exercício de desvelar-se camada por camada para atingir o “verdadeiro eu” è um processo doloroso, mas profundamente libertador.
Essa guerra contra a idolatria enfrenta o mais poderoso dos ídolos que já existiu: o nosso “eu divinizado” um monstro construido, resultado de todas as fantasias da imagem fabricada e dos desejos egoistas.
A capacidade de compreender a função da luta contra o “falso eu” que nos ajuda a aproximar-nos da verdade, não é a negação de sí como muitos pensam, mas a libertação de tudo que não é o nosso “verdadeiro eu”. A batalha interior é o único caminho para a libertação das amarras que nos privam do verdadeiro encontro.

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